domingo, dezembro 03, 2017

Anúncio do Advento


Iniciamos hoje o Advento e, com ele, um novo ano litúrgico.
O Advento é um tempo propício para comemorarmos a extraordinária iniciativa de Deus de nos visitar e nos redimir. Cristo Jesus é sempre Aquele que vem, por amor, por dádiva, por entrega. Não esperemos outro salvador, n’Ele, cumpre-se tudo o que procuramos e ansiamos. Por isso, o Advento implica preparar os caminhos do Senhor, gerar um espaço no nosso interior para que Deus e Jesus Cristo possam entrar ainda mais profundamente e estreitar os laços de relação com cada um de nós.

Tendo em conta a singularidade deste tempo e essas que são as suas grandes figuras, nós diríamos que o Advento:
- É um apelo a vivermos na esperança, a olharmos para a vida como um caminho para Deus, para a libertação para a salvação, para a paz.
Mesmo quando tudo parece dizer o contrário. Mesmo aí é preciso, em espírito profético de fé e esperança no amor de Deus e na sua fidelidade, levantar a cabeça... porque Deus gosta mesmo de nós... porque Deus vem mesmo ao nosso encontro...Deus não nos trai nem engana.

- É um apelo a descobrirmos Jesus presente no meio de nós. E ele está presente de muitas maneiras. Está presente no seu Espírito que nos anima e congrega à sua volta no caminho para si. Está presente na Eucaristia. Está presente na sua Palavra e nos seus ministros. Está presente na reunião que um ou dois fazem em seu nome. E está também presente nos pobres, nos doentes, nos famintos, nos presos e nos peregrinos... em quem sofre e em quem precisa...


- É um apelo à recepção de Jesus na nossa vida. Acolhê-lo. Aceitá-lo. Agradecê-lo ao Pai. Aceitá-lo naquela liberdade de Maria. Abertos à sua vontade. Disponíveis para o que Ele quiser. Sem medo... Dados... Maria deu-se...

Vídeo - Anúncio do Advento


quarta-feira, junho 14, 2017

O Pão da unidade



No sacramento do seu Corpo e Sangue, Jesus deixou-nos o memorial do seu sacrifício para que o celebrássemos em memória d’Ele, até que Ele venha no fim dos tempos. Por isso, sempre que celebramos a Eucaristia, proclamamos a morte do Senhor e renovamos a Aliança com Deus, que, na sua morte, Cristo selou em nosso favor.

Moisés caminhou à frente do povo hebreu através do Mar Vermelho e do deserto até a terra prometida. Jesus Cristo é o novo Moisés, que, através da sua morte e ressurreição, preside o novo povo de Deus em esperança solidária, rumo à vida plena, transfigurada em Cristo. Os hebreus celebravam o memorial pascal com uma refeição de agradecimento pelos benefícios recebidos, de modo especial pelo Êxodo, isto é, a passagem da terra da opressão para a terra da liberdade.
Jesus Cristo instituiu a ceia da nova aliança com o novo povo de Deus, dando a si mesmo como alimento do seu povo; seu corpo imolado por nós e o seu sangue derramado por nós na cruz.
Na Eucaristia adoramos aquele que estava morto e agora vive para sempre (Ap 1, 18).
O Catecismo da Igreja Católica lembra que “a celebração do sacrifício eucarístico está toda orientada para a união dos fiéis com Cristo, que se ofereceu por nós” (nº 1382).
A Eucaristia não é uma simples refeição fraterna, mas um verdadeiro culto de adoração: “Tomai e comei, isto é o meu corpo; este é o meu sangue da aliança que se derrama por todos” (Mc 14, 22-24).
Desde o tempo dos Apóstolos a Igreja crê na presença real de Cristo no Santíssimo Sacramento. É convicção da Igreja que esta é a vontade do Senhor para que Ele seja Emanuel, Deus próximo do ser humano, como Salvador.
O Apóstolo Paulo diz claramente: “A taça de bênção que abençoamos, não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos, não é comunhão com o corpo de Cristo”? (1 Cor 10, 16).
É ainda Paulo que tira as consequências da comunhão no mesmo pão eucarístico: “Um é o pão e um é o corpo que formamos, apesar de muitos” (1 Cor 10,17).
Se formamos um corpo em Cristo, somos convidados a viver como irmãos e irmãs no Senhor, promovendo o bem de todos, trabalhando pela paz e pela sobrevivência da humanidade, através da preservação da criação.

A instituição da Eucaristia, aconteceu durante a última ceia pascal em que Jesus  celebrou com seus discípulos, e os quatro relatos coincidem no essencial, em todos eles a consagração do pão precede a do cálice; embora devamos lembrar, que na realidade histórica, a celebração da Eucaristia ( Fração do Pão ) começou na Igreja primitiva antes da redação dos Evangelhos

De facto é o Amor que faz do Cristo pão para nós. Assim, o Pão na Eucaristia passa a ser o Sacramento do Amor que na Cruz Ele dirigiu até ao fim. Portanto, ao comer esse Amor que se tornou Corpo no Pão Eucarístico, percebemos que o próprio Jesus é o Pão que sacia a nossa fome,  trazendo a certeza de que só conseguimos suportar a travessia dos desertos se segurarmos as mãos desse Amor que se oferece na Eucaristia em  cada missa celebrada. 
Felizes são os convidados para este Banquete!





sábado, junho 03, 2017

Pentecostes





Chegou a hora do Espírito: é Pentecostes! Que os dons do Espírito nos acompanhem e dêem força para alimentar a energia da nossa fé, sempre renovada e renovadora, sempre nova, sempre nossa.

No Domingo de Pentecostes celebramos o grande dom da Páscoa, o dom do Espírito Santo. O que celebramos e vivemos nas últimas sete semanas tem, agora, o seu ponto culminante. O anúncio da ressurreição de Cristo continua a ser aquilo que é mais importante que deve ser recebido por cada um como dom. A Igreja foi constituída com a vinda do Espírito Santo; cada um de nós pode acolhê-lo pela fé; os cristãos estão no mundo, fortalecidos pelo Paráclito: tudo isto é dom. A Liturgia da Palavra desta Solenidade deixa à escolha dois textos do Evangelho segundo São João (Jo 20, 19-23 ou Jo 14, 15-16.23a-26). Faremos a “leitura orante” do segundo texto, que nos apresenta três motivos de consolação muito fortes: a promessa da vinda do Consolador; a vinda do Pai e do Filho na alma do discípulo que acredita; a presença de uma mestre, que é o Espírito Santo, mediante o qual o ensinamento de Jesus não cessará.

O Espírito Santo, dom pascal por excelência, é o Mestre, aquele que abre o caminho ao verdadeiro conhecimento de Deus e da sua vontade. Na sua escola vai-se não para obter um diploma de sabedoria humana (e muito menos científica), mas para deixar-se guiar para a Verdade completa. Como posso entrar e crescer na relação com o Espírito Santo? 

Só aquele que ama será capaz de viver a Palavra de Jesus e de acolher a sua manifestação espiritual e interior. E quem cumpre esta Palavra (=os mandamentos) será amado por ele e pelo Pai: ele habitará no seu coração juntamente com o Pai e o Espírito. Sou consciente de que em mim (deseja) habita(r) a Santíssima Trindade? Para que tal aconteça, estou disposto a amar Jesus e cumprir a sua Palavra? 

ORAÇÃO

Pai, Filho e Espírito Santo,
Santíssima Trindade acompanhai-me toda a vida,
dai-me sempre guarida,
Pai Eterno, ajudai-me,
Verbo de Deus, iluminai-me,
Espírito Santo, consolai-me.




Vídeo - Pentecostes





domingo, maio 07, 2017

Ser Mãe...Um Sim à Vida!



Ela era muito jovem, talvez ainda adolescente.
Prometida em casamento com alguma ou muita antecedência, como era costume naquele tempo e na sua cultura, encontrara-se grávida antes da celebração das núpcias.
Isto era muito grave, tão grave que a fazia incorrer na pena de morte, e morte cruel por apedrejamento, embora, em consciência e diante de Deus, estivesse isenta de culpa.
Ao aceitar a gravidez, a jovem sabia, pois, o risco que corria, risco tanto maior quanto ela tinha de assumir, humanamente sozinha, toda a responsabilidade deste facto, perante a sua família, o seu noivo, e as autoridades civis e religiosas.
O que pensaria e como se sentiria, aquela Jovem numa situação tão angustiosa, não sabemos, só poderemos supor.
Sabemos, porém, que a sua atitude foi um Sim à VIDA, acontecesse o que acontecesse.
E por isso, chegada a hora, ela deu à luz “a Vida que era a Luz verdadeira, a qual, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina” (Jo 1, 1-9).
Esta jovem foi Maria de Nazaré, uma menina a quem Deus concedeu inúmeros privilégios e dons singulares, mas a quem não livrou do sofrimento e das leis e contingências desta vida. Mas porque Maria acreditou foi feliz e trouxe-nos a felicidade, dando ao mundo a salvação, que é o próprio Filho de Deus incarnado no seu seio. Mas esta salvação dependeu do seu sim, dependeu da aceitação da nova vida, que emergia em circunstâncias de alto risco para a mãe, como pode acontecer, noutras circunstâncias, com tantas mães solteiras, adolescentes ou jovens.
A atitude corajosa de Maria é, pois, para todos nós, mas sobretudo para essas mães de “risco” uma lição, um estímulo e uma proteção.
É uma lição, porque se Maria soube dizer Sim à Vida, em circunstâncias de tanto risco, foi porque aprendeu a dizer Sim a Deus, à sua vontade, aos Seus mandamentos.
É um estímulo, porque se ela pôde vencer todos os medos, e todos os obstáculos, para aceitar a Vida nascente, também os poderão vencer as mães, a quem são dadas graças muito especiais pelo facto de lhes ser atribuída essa vocação e missão, e tanto mais graças quanto mais se forem enchendo de graça, como Maria foi cheia de graça, por isso, cheia de fortaleza do Espírito Santo que A habitava e preenchia totalmente.
É uma proteção, de modo especial para as mães que Nela confiarem, e lhe confiarem a sua gravidez, e os seus filhos, porque Maria ao mesmo tempo que é Mãe de Cristo é nossa mãe, e continua a dizer Sim à Vida, de cada um de nós e por meio de nós.
Que todas aquelas, adolescentes, jovens ou adultas, a quem Deus tenha concedido o dom de serem mães, tenham a coragem e a generosidade de acolher esse dom sublime e, como Maria e sob a sua proteção, o deem à luz, ainda que no “estábulo” da pobreza, da exclusão, ou da condenação social.

FELIZ DIA PARA TODAS AS MÃES.



Arménio Rodrigues

segunda-feira, maio 01, 2017

Maria de Nazaré




Ao iniciarmos a devoção a Nossa Senhora no mês de Maio de 2017 perguntemos quem era Maria?
Recorramos à Sagrada Escritura.
A primeira referência encontra-se no livro do Génesis: "Eu porei inimizade entre ti e a mulher, entre a sua descendência e a descendência dela. Estes esmagar-te-ão a cabeça".
A segunda referência encontra-se-se em Isaías que diz:
"Ficai sabendo que Deus vos dará um sinal. a jovem concebeu e dará á luz um filho e chamá-lo-á Emanuel".
Finalmente S. Lucas apresenta-nos Maria:
" O Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem chamado José, que era descendente de David. E o nome da virgem era Maria".
Esta é Maria a mãe de Deus que veneramos, agradecemos e queremos imitar. É o objectivo do mês de Maria

Maria de Nazaré tem um lugar especial na nossa vida de cristãos. É, como disse um homem de fé: "A primeira e última Igreja." A primeira a ser Igreja. A primeira a acolher a Palavra de Deus, a dizer "SIM" ao plano libertador de Deus. Um sim tão forte que o Filho de Deus se fez carne na carne de Maria. Maria inaugurou a Igreja: o povo de homens e mulheres que acolhe e torna presente o Filho de Deus. E é a "última Igreja", a fidelidade total para onde tende a Igreja, o grupo daqueles que seguem Jesus, o Seu Filho. Bento XVI rezava, pedindo "Mostra-nos Jesus. Guia-nos para Ele. Ensina-nos a conhecê-Lo e a amá-Lo." É uma bela atitude para quem faz catequese. Na nossa caminhada como crentes e catequistas Maria é um modelo e uma fonte de inspiração. E para os nossos catequizandos Maria pode ser também um modelo do que é ser discípulo de Jesus: Minha Mãe, meus irmãos são todos aqueles que fazem a vontade de Meu Pai.









terça-feira, abril 25, 2017

CRESCER NA FÉ: caminhos de futuro


Apesar de vivermos num mundo descristianizado, em que todos os lugares são iguais na perspectiva do telemóvel, há lugares com uma capacidade grande de invocar o sagrado. São lugares onde os adolescentes conseguem sentir que a vida é mais do que o imediato. Lugares capazes de os transportar para o mistério de Deus.
Em Portugal, Fátima é, claramente, um desses sítios. Pelo clima de recolhimento, pela fé partilhada, pela atenção ao essencial da fé cristã.
Mas há outros: uma capela com silêncio e beleza, uma paisagem ainda não estragada pelo betão...
O catequista tem um papel importante ajudando os adolescentes a fazer um caminho de fé a partir da beleza do sentido do sagrado. Para isso promove a visita (não turística mas de fé) a esses lugares. Ajuda o grupo e cada um individualmente a valorizar esses lugares.

Nos últimos 20 anos têm crescido as propostas de grandes convocações de adolescentes e jovens. Ao lado das tradicionais peregrinações aos santuários marianos (muito ligados à piedade popular), têm surgido jornadas mundias e diocesanas  da juventude, peregrinações, idas a Taizé... São experiências apreciadas pelos mais novos e que os ajudam a crescer na fé. Quando têm qualidade. O que nem sempre  acontece. Quando se limitam a ser consumo turístico, pretexto para encontro de amigos... podem ser mais ou menos desejadas. Ma não ajudam a fé a crescer.

Em Portugal toda a gente "sabe" algo sobre Deus. E a partir do que sabem acreditam, não acreditam ou "tanto faz".
O encontro com o rosto de Deus proposto por Jesus de Nazaré é das experiências que mais faz crescer a fé. Os adolescentes sentem prazer, na descoberta do Deus que os ama, que os faz crescer. Que os liberta.
Isso acontece quando os catequistas e catequeses são capazes de ser fieis ao Evangelho e à maneira de sentir e pensar dos adolescentes. Quando superam todas as caricaturas do Deus cristão que por aí circulam, mesmo na mentalidade de tantos cristãos.

A capacidade de confiar nos outros é, humanamente, a capacidade mais parecida com a fé. A fé não é apenas "saber" quem é Deus; é acima de tudo, confiar n´Ele, colocar n´Ele a nossa vida.
Isso torna-se difícil quando os adolescentes se sentem inseguros diante dos outros, desconfiados, incapazes de estabelecer relações abertas.
As experiências que melhoram os níveis de confiança dentro do grupo de catequese ajudam, direta e indiretamente, os catequizandos a confiar em Deus.

A experiência de ter sido totalmente acolhido, amado por outros é muito importante para o crescimento na fé. O facto de alguém nos ter amado radicalmente, para lá das nossas qualidades e defeitos, abre a vida à possibilidade de acolher um Deus que se quer relacionar connosco do mesmo modo: acolhendo-nos incondicionalmente.
Muitas vezes, essa experiência foi feita em família, nos primeiros anos de vida. Mas mesmo quando isso não aconteceu, o catequista é chamado a fornecer ao adolescente esse acolhimento incondicional.




domingo, abril 16, 2017

Cristo Vive, Ressuscitou!



Depois da prisão de Jesus, do seu caminho para o calvário, da sua morte na cruz, da sua sepultura… os discípulos ficaram desconcertados e desorientados. Tudo parecia perdido, até o corpo de Jesus. Mas naquele primeiro dia da semana, em que Maria Madalena foi ao sepulcro, deu-se início a um tempo novo, de Jesus ressuscitado presente na vida dos seus. O sepulcro vazio, as ligaduras e tantas incertezas. No entanto, onde todos encontram sinais de morte, o discípulo que mais se sente amado acreditou. Ele não necessita de provas, sabe que Jesus vive, porque continua a sentir-se amado com o mesmo amor… Não necessita tocar, porque se sente continuamente tocado pelo amor de Jesus. E então vive agradecido, vive provando o seu amor, vive transmitindo o mesmo amor aos irmãos.

O Domingo da Ressurreição, primeiro dia da semana é o começo de uma vida nova; uma nova criação; a libertação definitiva! Tempos novos! Sentido novo! Homem novo! Maria Madalena, discípula do Senhor, não se aquieta à sua ausência. Vai procurá-Lo, prestar-Lhe homenagem, movida pela força do amor! Porque procurou, apesar da noite escura da ausência e da frieza do sepulcro, constatou a novidade: o sepulcro aberto e vazio! Jesus não estava lá! Afinal, a morte não é a última realidade!

Cada Páscoa, esta Páscoa, pode ser "um primeiro dia" na nossa vida. O início de uma vida diferente, porque marcada pelo sentido novo da Ressurreição. Apesar do escuro da nossa pouca fé, apesar do escuro de uma cultura do evidente e palpável, somos convidados à experiência de vislumbrar sinais de ressurreição anunciadores de uma vida nova! Com e como Maria Madalena e todos os apaixonados pelo Senhor, deixemo-nos mover pela fé e pela sede de Deus! Procuremos o Senhor vivo em nós, nos nossos ambientes, na Igreja, no mundo! Ele está vivo entre nós!

É a Páscoa do Senhor! Ressuscitou! Vive! E porque vive, enche de entusiasmo o nosso existir. Anima-nos à esperança. Anima-nos ao testemunho. Anima-nos à fé. É a festa da vida. Do encontro. Da partilha. Em Jesus ressuscitado somos convidados para o encontro com o Evangelho da verdade. Somos comunidade. Somos de Cristo. De Cristo vivo.

A ressurreição ultrapassa todas as expectativas e raciocínios. Os próprios discípulos, os que privaram com Ele, ainda não tinham entendido a sua lógica, a sua palavra, e muito menos o acontecimento da sua morte e a certeza da ressurreição. O acontecimento da ressurreição é a palavra final que tudo muda. Após esta experiência os discípulos embarcam na lógica do amor e do dom da vida. Compreendem os sinais da ressurreição, descobrem que Jesus está vivo!

Também nós não entendemos a ressurreição do senhor. Procuramos evidências, factos explicáveis, lógicas compreensíveis. Mas esta ultrapassa-nos, porque só na fé podemos acolher plenamente a verdade da ressurreição. Com ela aprendemos que a vida plena, a transfiguração total da nossa realidade finita e das nossas capacidades limitadas para pelo amor que se dá até à morte. A vida entregue gratuitamente não é um fracasso, mas um caminho para a felicidade verdadeira e sem fim. 
Será que conduzimos a nossa vida nesta direcção?
Ou ainda não entendemos a lógica da ressurreição?

Oração
A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo!
Enviai, Senhor, a vossa luz e verdade;
sejam elas o meu guia e me conduzam à vida plena, à alegria sem fim!
Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, nele exultemos e nos alegremos!


 Feliz Páscoa!



sábado, abril 08, 2017

Semana Santa



E já chegámos à Semana Santa! O nosso itinerário quaresmal tem agora um momento de celebração e contemplação profundo, intenso, único. A memória de Jesus, na sua entrega, na sua paixão, no seu amor ressuscitado torna-nos capazes da mudança, da profecia, do anúncio, da vida nova, simplesmente... da fé. Passemos, também nós, corajosamente, da morte à vida, do pecado à graça, da vida à vida nova em Jesus Ressuscitado.

"Não se faça a minha vontade, mas a tua". Jesus transforma a sua vontade humana e identifica-a com a de Deus. É este o grande acontecimento do Monte das Oliveiras, o percurso que deveria realizar-se fundamentalmente em cada uma das nossas orações:  transformar, deixar que a graça transforme a nossa vontade egoísta e a abra para se conformar com a vontade divina. Nos momentos difíceis, sabemos pedir ajuda a Deus, com humildade e fé, para encontrar no seu amor de Pai a força para enfrentar os nossos maiores medos?

Jesus respondendo afirmativamente à pergunta: "Tu és então o Filho de Deus?", mostra-se plenamente consciente da própria dignidade divina. Desta forma Jesus "assinou" a própria condenação à morte: é um blasfemo que profana o Nome e a realidade de Javé, porque se declara explicitamente "filho". O seu sofrimento, a sua morte e ressurreição são o testemunho mais eloquente acerca do Pai e do seu desígnio de salvação sobre a humanidade.

Pilatos compreendeu desde o início que o tipo de acusação apresentada foi preparada com arte para não lhe deixar outra alternativa: reconhece a inocência de Jesus, mas por motivos de conveniência não quer colocar-se em oposição aos acusadores. Tendo entrado no tribunal como "condenado" Jesus sai agora como "inocente" e encaminha-se para a morte como o "justo (injustamente) perseguido".

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-n’O a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». (...) E Jesus exclamou com voz forte: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou.

Estas, segundo S. Lucas, são as últimas palavras de Jesus: palavras de perdão, de amor, de aliança; palavras com as quais resplandece mais uma vez o seu espírito filial. "Pai": as últimas palavras de Jesus recordam a sua primeira frase, pronunciada no templo de Jerusalém aos doze anos: "Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?". (Lc 2, 49).

Jesus é todo aqui, na sua relação com o Pai. Entregando-se ao Pai, anuncia a sua misericórdia e reconduz a casa cada "filho pródigo", que encontra no "bom ladrão" a realização plena. O seu é um arrependimento que não nasce de motivos humanos, de simpatia por Jesus; o "bom ladrão" converte-se porque, com os olhos da fé, descobre quem é verdadeiramente aquele Jesus que está crucificado ao seu lado.

Oração
Reza e contempla o Mistério Pascal a partir deste belo hino cristológico transmitido por São Paulo: Cristo Jesus, que era de condição divina,
não Se valeu da sua igualdade com Deus,mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo,tornou-Se semelhante aos homens.
Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais,obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltoue Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai. (Filip 2, 6-11)

Vídeo - Semana Santa 

sexta-feira, abril 07, 2017

O Essencial é Amar



Vivemos incessantemente buscando o amor, porque sabemos que só ele dá sentido à vida. Crescemos e ouvimos histórias de amor, do mito “foram felizes para sempre”.
Ligamos a rádio e as canções falam de amor, vemos uma telenovela e a palavra amor é repetida vezes sem conta…
Vamos ao cinema e o enredo trata do tema do amor. Festeja-se o S. Valentim e as montras enchem-se de corações….Banalizamos o amor. Reduzimos geralmente o amor ao erótico…ao desejo…O amor é moeda de troca, objecto de comércio, fonte de lucros. Já mais adultos experimentamos o contrário. Olhamos a nossa volta e vemos o divórcio e a separação, o vazio e a solidão…..
É nestas ocasiões que precisamos de ir mais além…
É importante superar os nossos gostos com atitudes positivas, de abertura, de reconhecimento e entrega aos outros….É a isto que chamamos AMOR!
Amar é diferente de gostar…gostar é simpatizar com o outro…
Amar é aceitar o outro, ainda que isso seja difícil…só assim se percebe o mandamento de Jesus “amai os vossos inimigos…”. Amar é uma atitude positiva, de ajuda, de preocupação pelo bem do outro…
A simpatia, a delicadeza e a bondade fazem parte do amor.
O amor, contudo, há-de ir até ao ponto de fazermos aos outros o que queremos que nos façam e de não fazermos aos outros o que não queremos que nos façam. Esta é a regra de ouro do relacionamento com os outros
O amor vem de Deus e orienta-se para Deus, porque Deus é Amor!

quinta-feira, março 30, 2017

Palavra de Deus - Escola de Oração



A Palavra de Deus é fonte de vida para os crentes. Fonte límpida e perene de vida espíritual. Luz para o caminho. Força para a construção da própria identidade. Alimento para a oração - A Palavra de Deus não é uma simples expressão literária: é Deus que fala - já todos o sabemos. Deus diz-se a si mesmo através da Sua Palavra. Quando rezamos procuramos o diálogo com Deus que nos ama e que amamos. A oração é, deste modo um jogo de "palavras encontradas". Diálogo de encontro entre as "palavras que dizemos" com "a palavra" (Verbo encarnado) que nos acolhe e ama. É por isso que a Palavra é ao mesmo tempo fonte e alimento da nossa oração. Alfa e Omega. Princípio e fim.
A partir da Palavra, a vida cristã nasce e é alimentada, curada, fortalecida e comprometida na missão da Igreja no mundo. Uma catequese sem a Palavra é como uma árvore sem a sua seiva. Na catequese anunciamos a Palavra de Deus. A Palavra de Deus ilumina a própria vida, tornando-se experiência de encontro. E da Palavra, nesse encontro, fazemos oração. Deus fala, nós respondemos. Rezar é escutar a Palavra de Deus, lê-la com um coração disponível e depois dirigir-se ao Senhor com as palavras e os sentimentos que Ele mesmo suscita no nosso coração. Com a Palavra, introduzimos os nossos catequizandos na dinâmica da oração, da partilha com Deus, fazendo da Palavra, vida. Colocando a Palavra nos eventos quotidianos. Fazendo da escuta da Palavra, oração.
Num tempo em que a vida corre demasiado veloz, cheia de mil coisas e preocupações, é fácil prescindimos da escuta da Palavra de Deus, que o mesmo é dizer, do tempo de oração. Para que isto possa acontecer e se torne uma experiência que toca a vida é necessário criar e cuidar um ambiente que favoreça o silêncio, a intimidade, a escuta...


As notícias que invadem o nosso dia-a-dia estão cheias de pessimismo sensacionalista. Deixo que esta interrogação faça eco em mim: estou apto/a a descobrir os sinais da vida eterna que pulsa no coração da humanidade ou vivo na sombra de um sol sem esperança? O que posso concretamente fazer para que a vida em abundância chegue a quem duvida, dela carece ou a ignora? Envio uma mensagem ou um sms a alguém como partilha de algo belo e divino que descubro ou experimento.

O que significa hoje alimentar-se de Jesus? É seguir os seus passos, aprofundar a sua vida e segui-l'O no sim a Deus e no amor aos irmãos, entrar em profunda adesão de coração com Cristo Senhor, até ao ponto de experimentarmos o que S. Paulo nos comunica: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20). Quando alguém acolhe Jesus como o pão que desceu do céu, torna-se um Homem Novo.

O maná a que Jesus se refere pode representar hoje aquelas propostas de vida que, tantas vezes, nos atraem pelos aplausos recebidos no palco do mundo, pelo poder e fama que a moda ou a opinião pública dominantes nos oferecem, pela ilusão de uma felicidade fácil adquirida em cada fragmento de tempo…Mas o momento passa e o sentimento de vazio ganha espaço na nossa vida quando nos alimentamos de experiências que não geram vida plena. É preciso aprender a não colocar a nossa esperança e a nossa segurança nesse “pão” demasiado leve. Pode parecer difícil treinarmo-nos nesta experiência de fé, mas não nos esqueçamos que é nesse espaço de fé que o mistério do Amor se revela como vida autêntica.

ORAÇÃO

Rezo, medito e contemplo esta passagem de S. Paulo aos Efésios:

«É por isso que eu dobro os joelhos diante do Pai, do qual recebe o nome toda a família, nos céus e na terra: que Ele vos conceda, de acordo com a riqueza da sua glória, que sejais cheios de força, pelo seu Espírito, para que se robusteça em vós o homem interior; que Cristo, pela fé, habite nos vossos corações; que estejais enraizados e alicerçados no amor, para terdes a capacidade de apreender, com todos os santos, qual a largura, o comprimento, a altura e a profundidade... a capacidade de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa todo o conhecimento, para que sejais repletos, até receberdes toda a plenitude de Deus. Àquele que pode fazer imensamente mais do que pedimos ou imaginamos, de acordo com o poder que eficazmente exerce em nós, 21a Ele a glória, na Igreja e em Cristo Jesus, em todas as gerações, pelos séculos dos séculos! Ámen.» (Ef 3,14-21)



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Vídeo: Tua Palavra




Arménio Rodrigues

domingo, março 26, 2017

IV Domingo da Quaresma



Nesta caminhada quaresmal, a liturgia apresenta-nos a cura do cego de nascença. Jesus é a luz do mundo que vem abrir os nossos olhos à fé, à nossa adesão plena como discípulos. Quando tudo parece perdido, Jesus faz-se próximo, com o seu brilho, para dar sentido à nossa vida. Assim, são-nos apresentados dois caminhos: o caminho da visão plena, percorrido por aquele homem inicialmente cego, mas que chegou ao reconhecimento de Jesus como Messias; e o caminho da cegueira obstinada, renitente, personificada pelos fariseus e pelas autoridades judaicas que se recusaram em reconhecer, em ver, em Jesus a luz do mundo.

PALAVRA
Naquele tempo, Jesus encontrou no seu caminho um cego de nascença. Os discípulos perguntaram-Lhe: «Mestre, quem é que pecou para ele nascer cego? Ele ou os seus pais? Jesus respondeu-lhes: «Isso não tem nada que ver com os pecados dele ou dos pais; mas aconteceu assim para se manifestarem nele as obras de Deus. É preciso trabalhar, enquanto é dia, nas obras d’Aquele que Me enviou. Vai chegar a noite, em que ninguém pode trabalhar. Enquanto Eu estou no mundo, sou a luz do mundo». Dito isto, cuspiu em terra, fez com a saliva um pouco de lodo e ungiu os olhos do cego. Depois disse-lhe: «Vai lavar-te à piscina de Siloé»; Siloé quer dizer «Enviado». Ele foi, lavou-se e ficou a ver.

O caminho de Jesus é a vida dos necessitados, dos que sofrem, sejam eles pecadores, cegos, coxos, ou excluídos da sociedade e do culto. O caminho de Jesus é passar e dar sentido, luz, aos que estão à beira do caminho, “encostados”, à espera que alguém passe, os atenda, os conduza à luz, à abertura dos olhos para a fé. Jesus é o filho obediente que está no mundo para ser luz no caminho dos homens e manifestar as obras de Deus. Este cego que Jesus encontra, representa as nossas cegueiras, tudo o que colocamos como prioridades, sem Deus, e que ofusca a visão plena de Deus: nada vemos além do nosso mundo fechado de trevas… e precisamente aí, quando tudo parece perdido, onde não encontramos saída… aparece Jesus, num gesto criador! O toque de Jesus, acompanhado com a nossa obediência, dará lugar ao milagre! Porque teimamos a nossa cegueira? Falta-nos confiar em Jesus?

ORAÇÃO

Vem, Senhor Jesus, vem depressa à minha vida, vem iluminar-me, vem abrir os meus olhos para reconhecer-Te como “Senhor”. Tu que és luz do mundo, vem ser luz na minha vida, vem quebrar as minhas amarras, vem manifestar as obras de Deus na minha vida. Liberta-me do meu pecado, liberta-me das seguranças que construí, sem ti, sem a tua presença. Abre meus olhos, Senhor, abre meus olhos, abre meus olhos à tua luz.

Vídeo IV Domingo da Quaresma

sexta-feira, março 24, 2017

Quaresma-Tempo de Jejum, Oração, Solidariedade.



A Quaresma é tempo favorável para, através de diversas formas, renovarmos a nossa fidelidade cristã. O gesto de imposição das mãos na quarta-feira de cinzas leva-nos a tomar consciência da nossa condição de pecadores. A Quaresma é tempo propício para o aprofundamento do designio de Deus sobre cada um. É tempo de renunciar, de converter e de crer. Ao longo destes 40 dias, as leituras sugerirão: sentido de jejum e da partilha, amor ao próximo, importância da oração, conversão, justiça de Deus, a sua misericórdia, o perdão e a reconciliação. Estas leituras quaresmais levam-nos a interrogarmos: como vivemos as exigências do nosso batismo? Sugere-se mais reflexão sobre a Palavra de Deus, mais oração e a Via-Sacra. A Quaresma exige que façamos a revisão das nossas competências. Se lutamos por ser competentes ou somos "do despacha", porque custa. Também exige que façamos a revisão da nossa moralidade: os nossos costumes, os nossos valores, as nossa ações. Assim como diz o Catecismo da Igreja Católica, entremos numa linha de ascese (esforço, sacrificio) e deixemos de lado a acédia (preguiça espiritual).

A Quaresma é um tempo para nos pormos belos para o Senhor. De cabeça perfumada, de cara lavada e alegre. Antes duma festa, dum encontro importante, cuidamos do visual, do vestuário... antecipa-se já a alegria do encontro que vem a seguir. É a preparação para a mais bela festa de todas: a Páscoa.

40 dias de deserto...
Este caminho de 40 dias de jejum, de oração, de perdão, de solidariedade vão colocar-nos em diálogo com o mais profundo e autêntico de nós mesmos... vamos poder viajar ao nosso interior onde mora a liberdade, onde se jogam as grandes opções que fazemos na vida. 
Vamos ouvir tentações, respostas fáceis à pergunta sobre o que queremos da vida...
O deserto é o lugar da liberdade e da tentação. Da fidelidade a Deus e da dúvida. Do amor e dos egoísmos. Do caminho e da queda.
Jesus foi até lá para clarificar a sua identidade, para se confrontar com os diferentes projetos de vida e saíu fortalecido. vencedor sobre todas as tentações fáceis que Lhe propunham ser menos...

Tempo de Jejum...

... e nessa altura hão-de jejuar... (Mateus 9, 14-15)

Faço jejum para soltar o coração. 
Faço jejum para partilhar o que não como, com aquele que tem fome.
E enquanto faço jejum do alimento, aprendo a renunciar a outras coisas:
à violência, à inveja, às palavras agressivas.

Tempo de Oração...

... não digais muitas palavras...  (Mateus 6, 7-15). 

Como rezar? Para Jesus, é inútil perder tempo a dizer muitas palavras. Ele convida a pores-te com serenidade e confiança diante do pai. Ele sabe aquilo de que tu precisas, mesmo antes que tu o digas.
Rezar bem é, acima de tudo, aprender a confiar em Deus. As palavras usadas... importam pouco.

Tempo de Perdoar...

...deixa a tua oferta sobre o altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão... (Mateus 5, 20-26)

A experiência de ser perdoado é extraordinária. É um renascimento, a sensação de poder começar de novo, de nos sentirmos libertos da culpa. É um dom de Deus. Só se te deixares tocar pelo perdão de Deus serás capaz de perdoar aos outros. Mas depois de seres perdoado, depois de Deus ter anulado as tuas culpas, não serás tu capaz de dar um passo para perdoar os outros? Perdoa como foste perdoado. E o Pai te perdoará como tu perdoas.

Tempo de Solidariedade...

... o que quiserdes que vos façam, fazei-o vós também... (Mateus 7, 7-12)

É uma regra simples: faz aos outros, o que queres que te façam a ti. Toma a iniciativa. Sai do teu isolamento e começa a tratar os outros com um amor sincero. Abre os olhos para ver as suas necessidades. abre as mãos em gestos de solidariedade, de justiça e de carinho.

A Quaresma é um tempo de escuta. Um tempo em que nós cristãos, dedicamos especial atenção à palavra de Deus. Um tempo em que, a partir do exemplo de Jesus, purificamos a nossa vida, identificamos os gestos e acções que realmente nos transformam em pessoas mais felizes.


Vídeo: Quaresma- tempo de jejum, oração, solidariedade




Vídeo: Ninguém Te Ama Como Eu



                                                  SANTA QUARESMA


Abraço fraterno!
Arménio Rodrigues

quarta-feira, fevereiro 01, 2017

Domingo de Ramos



 
 Domingo de Ramos
«PAIXÃO DE CRISTO»

O evangelho de hoje narra-nos a paixão de Jesus, as suas últimas horas de vida. Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus (1,1; 15,39), que para cumprir a missão que o Pai lhe confiou tem de passar pela morte. Mas tudo sucede para que se cumpram as Escrituras (14,27.62; 15,34). Jesus aceita cumprir o projecto do Pai, mesmo quando esse projecto passa por um destino de cruz. Esta cruz, escândalo para a fidelidade dos discípulos, é o momento supremo da revelação da divindade de Jesus (15,39). Quem acreditar no crucificado, acreditará no Filho de Deus. Foi assim que o centurião, não tendo convivido com Jesus, se tornou num autêntico crente, testemunha da sua morte e anunciador da sua divindade. É isto que Marcos esperava da sua comunidade e da nossa, seus leitores.

Na sua missão, Jesus entrou em choque com a atmosfera de egoísmo e opressão que dominava o povo. As autoridades não estavam dispostas a renunciar aos mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, e privilégios; não estavam dispostas a desinstalar-se e a aceitar Jesus como o Filho de Deus (Mc 1,1; 15,39). Tantas vezes de costas voltadas, os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas estão, finalmente, de acordo: não querem perder a oportunidade para acabar com Jesus. Os inimigos juntam-se na mesma condenação. A partir daqui, Jesus torna-se um “objecto”, com as mãos atadas, mas que vai passando de mão em mão: os que O prenderam levam-n’O ao sinédrio, estes entregam Jesus a Pilatos, este aos soldados e, por fim, os soldados levam-n’O à cruz! O seu corpo, entregue por nós, passa de uns para outros, de maneira que todas as mãos dos pecadores recebam o dom.

Preocupa-me, Senhor, que no nosso mundo não haja lugar para Ti, para o Teu projecto de amor, para os Teus gestos que provocam inveja, para as Tuas palavras que desinstalam e incomodam, porque são verdadeiras. Mas o que mais me preocupa é que tantas vezes, também no meu coração, não há lugar para Ti! Estás consciente das consequências e do sofrimento e da Tua entrega. O Teu caminho de cruz já começou. E esse caminho é comprido. O caminho é sempre interminável quando o sofrimento é muito. Mas nesta humilhação, nesta fraqueza, manifesta-se a fortaleza do Teu amor, sem limites, até às últimas consequências. Como é bom ter um Deus assim, capaz de se entregar por amor, mesmo sem eu merecer! Obrigado, Senhor!

Vídeo - Via - Sacra



domingo, janeiro 29, 2017

Bem-Aventuranças



Jesus subiu ao monte e sentou-se como Mestre. No lugar onde Moisés recebera, um dia, as Tábuas da Lei. Jesus proclama agora as Bem-Aventuranças! Nelas, Jesus anuncia o caminho novo do Reino, o caminho do amor, o caminho da felicidade. O caminho que Jesus segue é o da Cruz, pelo qual se sobe, descendo; pelo qual se conquista, perdendo; pelo qual se alcança a vida, morrendo! O monte do anúncio da Palavra é também o monte da oração, das dificuldades, da cruz... Depois da Ressurreição, será transformado, finalmente, no monte da ascenção!
A nossa subida até Deus, acontece na medida em que acompanharmos Jesus, nesta «descida», até à morte e morte de Cruz.
As Bem-Aventuranças não são mais que o próprio retrato de Jesus, Crucificado e Ressuscitado. Ele é o verdadeiro pobre, que não tem onde reclinar a cabeça; Ele é o verdadeiro manso e humilde de coração, porto de abrigo de todos os cansados; Ele é o verdadeiro puro de coração e, por isso, contempla a Deus, sem cessar; Ele é o obreiro da paz; é Aquele que sofre por amor de Deus! Por trás do Sermão da Montanha está a figura daquele Homem que é Deus, que nos faz subir até Deus, descendo até nós, despojando-se até à morte de Cruz.
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Bem-Aventuranças - Convite a Subir Montes interiores - Ser Mais...
Temos "montes" no horizonte se quisermos integrar as Bem-Aventuranças no nosso projecto de vida... Porque já somos simples, generosos, alegres, activos, criativos, construtores, e radicais e manifestamos estas qualidades no nosso quotidiano, estamos em melhores condições para responder ao desafio de Jesus nesta Quaresma e Páscoa: continuar a subir... SUBIR, ainda mais alto pelo Monte das Bem-Avenuranças... Ser Mais...
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SUBIR... Ser mais SIMPLES
No convívio com pessoas que nos fazem sentir bem...
No encontro com pessoas que nos obrigam a pensar de maneira diferente.
No elogio que se dá num momento de êxito.
Na consciência da necessidade da oração e do apoio de Deus.
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SUBIR... Ser mais GENEROSO/A
Na colaboração... em qualquer actividade
Nos "presentes" que damos aos nossos amigos
No tempo que oferecemos às pessoas (aos idosos, às crianças, aos desconhecidos...)
Na aplicação das nossas capacidades nas diversas actividades: estudo, emprego, família...
Na resposta pronta à Vontade de Deus
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SUBIR... Ser mais ALEGRE
Na partilha das coisas boas que a vida nos oferece
Nos momentos em que só o humor é capaz de transformar a realidade
No olhar de esperança perante o "humanamente impossivel"
Nos acontecimentos em que não entendemos os caminhos de Deus
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SUBIR... Ser mais ACTIVO/A
Nos Movimentos e Associações...
Na paróquia: na catequese, nas Celebrações... nos encontros...
Na intervenção política
Na reflexão sobre as propostas que nos são feitas pela escola, pelo emprego, pela Paróquia...
Na resposta aos convites a crescermos em Sabedoria e Graça como Jesus.
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SUBIR... Ser mais CRIATIVO/A
Na criação de coisas novas
Na missão que nos foi confiada
Na alteração à aparente ordem normal das coisas
Nas iniciativas que desafiam as nossas capacidades
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SUBIR... Ser mais CONSTRUTOR/A
De Interioridade e Espiritualidade dentro de nós
De harmonia na família
De justiça nas empresas
De paz... no nosso país e no mundo
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SUBIR... Ser mais INCLUSIVO/A
Nos ambientes em que não se olha atentamente para o deficiente
Nos espaços em que "alumas pessoas não têm lugar"
Nos lugares onde outras culturas desafiam a nossa forma de vida
Nos grupos de minorias, de estrangeiros... de distantes...
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SUBIR... Ser mais RADICAL
na busca incessante da SABEDORIA...
Na resposta à proposta de Jesus: fazer da VIDA uma continua subida...
na descoberta da nossa vocação: a ser "cristão autêntico no próprio ambiente"; Ser catequista, leitor, cantor, sacerdote; ser consagrada; ser mãe, ser pai...
Na vivência de uma Fé que faz da nossa VIDA UMA OBRA COM SENTIDO!
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Andemos juntos, Jesus...
por onde fores tenho que ir, por onde passares, tenho que passar...
Quando estiveres triste, vê Jesus a caminho do calvário...
Quando estiveres alegre, vê Jesus ressuscitado... (Santa Teresa de Ávila)
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Arménio Rodrigues